Nossa história
Para além da nossa formação pessoal, nos preocupávamos com questões sociais importantes que, invariavelmente, tocam qualquer brasileiro. Afinal, a prática da psicanálise não pode ser dissociada do tempo e do espaço onde ela ocorre. O Brasil, profundamente desigual, violento e injusto, é nossa dimensão de espaço e tempo da qual não devemos nos desligar.
Nós tínhamos (e ainda temos) muitas questões: as pessoas conhecem a psicanálise? Como ela vem sendo divulgada? A psicanálise pode/deve ser mais acessível? O acesso se daria apenas por abaixamento do valor monetário das sessões? Este abaixamento do valor, trata-se de caridade? Qualquer pessoa pode ou deve fazer análise? A psicanálise é uma prática restrita aos consultórios e clínicas? É restrita a bairros de classe média alta? O que vem sendo feito sobre isso no meio psicanalítico em Ribeirão Preto? e no Brasil?
Quando parecia que avançávamos em algumas questões, novas surgiam. De nossas conversas e de uma ideia já implementada por um de nós em 2011, nasceu a Clínica Social de Psicanálise Hélio Pelegrino, no início de 2014.
Nossa proposta não é de uma Clínica de caridade ou de baixo custo, mas sim de possibilidades, em que o termo “social” vai balizar nosso desejo de estabelecer contatos e relações justas. Um espaço em que o desejo de fazer análise se encontra com a aposta nos potenciais humanos.
A Clinica Social de Psicanálise
Qual é o objetivo da Clínica Social de Psicanálise Hélio Pellegrino?
Quem são os profissionais do Grupo Gestor?
Quem são os profissionais do Corpo Clínico?
Por quê Hélio Pellegrino?
Hélio Pellegrino foi um psicanalista importante na história da psicanálise brasileira pelo seu envolvimento com a democratização do Brasil em épocas de ditadura militar e pelo seu comportamento extremamente crítico em relação aos sistemas de poder nada democráticos implantados dentro de seu grupo de formação em psicanálise (PIRES,1998). Hélio e Anna Katrin Kemper incomodados com a elitização da psicanálise no Rio de Janeiro da década de 70, de forma revolucionária para a época, fundaram a “Clínica Social de Psicanálise” que tinha a proposta de oferecer um “banco de horas” em que cada profissional ligado ao projeto depositava duas horas de atendimento por semana e os clientes pagavam quantias simbólicas pelos serviços. Embora nossa proposta tenha aproximações e diferenças com a proposta de Hélio Pellegrino, seu nome foi escolhido para homenagear a sua iniciativa radical e pioneira, e pelo fato de ter nos inspirado a pensar sistematicamente a questão do acesso à psicanálise.
Como pensamos o Social?
Por que o atendimento não é gratuito?
As entrevistas iniciais são gratuitas?
Existem outras propostas sociais em psicanálise?
O primeiro Instituto de Psicanálise ocupado com a formação de novos analistas era “social”. Em 1920, com a abertura do Instituto Psicanalítico de Berlin, Max Eitingon, ao mesmo tempo em que instituiu regras básicas para a formação analítica (análise pessoal, supervisão e estudo teórico) abriu a possibilidade de atendimento gratuitos ou com custos variáveis de acordo com as possibilidade dos pacientes (Roudinesco, 1998).
Muitos dispositivos sociais e institucionais, das mais variadas naturezas, sempre foram sustentados pelos psicanalistas interessados na democratização da psicanálise e no direito universal à saúde. A Policlínica Psicanalítica de Berlin de Abraham, os grupos terapêuticos e políticos sexpol de Reich, a ação continuada do analista, renovadora da própria psicanálise, no hospital público, de Winnicott, os grupos psicanalíticos de trabalho e operativos, de Bion, Pichon Rivière e Bleger, na Inglaterra e na Argentina, os grupos psicanalíticos e as instituições para trabalho com psicóticos, de Didier Anzieu, René Kaës, Felix Guattari e Maud Mannoni, os grupos Balint em hospitais, as clínicas psicossociais dos psicanalistas cariocas brasileiros, e o próprio impacto da psicanálise e dos psicanalistas nos Capes de Saúde Mental, o resultado maduro da política antimanicomial brasileira, são apenas alguns entre tantos trabalhos desta natureza que atravessam a história da psicanálise e que hoje existem em Universidades, Institutos de Formação e Instituições (Ab’Sáber, 2016).
O que Freud pensaria disso?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AB’SÁBER, Tales. Psicanálise, espaço público e vida popular. Julho de 2016. Disponível em <http://vilaitororo.org.br/em-obras/clinica-publica-de-psicanalise/psicanalise-espacopublico-e-vidapopular/> Acessado em: 8 mai 2017
FREUD, Sigmund. Caminhos da terapia psicanalítica, Obras Completas, vol. 14, Companhia das Letras, 1919.
PIRES, Paulo Roberto (1998). Hélio Pellegrino – A paixão indignada. Relume-Dumará, p.84-86.
ROUDINESCO, Elisabeth e PLON, Michel. Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.