Freud olhava para a Rússia soviética com curiosidade, pois via nela um experimento social racional. Contudo, seu interesse político parava aí. O fundador da psicanálise considerava o socialismo, fundamentalmente, como um projeto idealista e uma ilusão insustentável.
Apesar de Freud, foi comum entre os primeiros psicanalistas o interesse pelo marxismo. Não por acaso: todos se sentiam tocados pela intensa agitação política dos trabalhadores na Europa no pós-guerra e pelo poderoso movimento socialdemocrata alemão. Este era considerado, até a consolidação do bolchevismo e a fundação da Terceira Internacional Comunista, o herdeiro legítimo do legado de Marx e Engels.
Ao longo do século XX, iniciativas como as clínicas públicas e formulações teóricas de psicanalistas de “esquerda” vão marcar a psicanálise como um movimento predominantemente crítico a ordem vigente. Muitas controvérsias surgiram desde então. Enquanto há marxistas que acusam a psicanálise de ser uma teoria idealista e burguesa, psicanalistas que aderem a teorias pós-modernas consideram o marxismo, na melhor das hipóteses, uma teoria ultrapassada, ou, na pior delas, um movimento que está do lado dos opressores.
Ora, o que a psicanálise tem a ver com o marxismo? É uma relação fadada ao fracasso? Qual o potencial dessa relação ainda hoje? Reconhecendo a ausência de espaços no Brasil para debater essa temática, a Clínica Social Hélio Pellegrino convida todos os interessados a participar do Grupo de Estudos Psicanálise & Marxismo.
Começaremos estudando a história do movimento psicanalítico, as raízes kantianas do pensamento freudiano e o que é o materialismo histórico. Fecharemos o semestre lendo a primeira obra que buscou estabelecer uma relação sistemática entre psicanálise e marxismo, “Materialismo Dialético e Psicanálise”, de Wilhelm Reich.
O grupo se encontrará quinzenalmente. Mantido o interesse dos membros em um próximo semestre, iremos explorar outros autores além de Reich. A bibliografia do grupo está aberta a sugestões de modificação por seus membros.
Previsão de início: 18/01/2022 às 19h
Duração de cada encontro: 1h30min
Local: Online e Presencial (Copacabana, Rio de Janeiro)
Mensalidade: R$50,00 (pedido de isenção disponível no formulário de inscrição)
Coordenação: Pedro Henrique Corrêa, psicanalista, bacharel em Psicologia (PUC-Rio), psicólogo (CRP 05/47170),mestre e doutorando em Saúde Coletiva (UERJ), integrante do Grupo Brasileiro de Pesquisas Sandór Ferenczi (GBPSF) e membro da direção nacional da Esquerda Marxista, corrente interna do PSOL.
Organização: Clínica Social de Psicanálise Hélio Pellegrino
Referências bibliográficas
– MEZAN, R. O Tronco e os Ramos: estudos de história da psicanálise. São Paulo: Blucher, 2014.
– KANT. I. Crítica da Razão Pura. Petrópolis: Editora Vozes, 2015.
– FULGENCIO. L. Fundamentos Kantianos da Psicanálise Freudiana e o Lugar da Metapsicologia no Desenvolvimento da Psicanálise. Psicologia USP, São Paulo. pp. 37-56, 2007.
FENICHEL, O. Psychoanalysis and Metaphysics. In: The Collected Papers of Otto Fenichel. New York: W.W. Norton & Company Inc. pp. 27-31, 1953.
– KUPPERMAN, D. Transferências cruzadas. São Paulo: Editora Escuta. 2014.
– FREUD, S. Fundamentos da Clínica Psicanalítica. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.
– MARX, K. Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: Expressão Popular, 2008.
– MARX, K.; ENGELS, F. A Ideologia Alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.
– MALAGODI, E. O que é materialismo dialético. São Paulo: Brasiliense, 1988.
– REICH, W. Materialismo Dialético e Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1977.